A mentira matará a democracia, e os dados nos EUA comprovam isso
Postado em: Por: Raimundo Carvalho
Nesta semana, uma pesquisa realizada nos EUA e conduzida pela rede CNN revelou que, mesmo 3 anos depois da eleição presidencial de 2020, essa é a reação da população americana diante da confiança no sistema eleitoral do país:
69% dos republicanos ou simpatizantes do partido de Donald Trump afirmam que a vitória de Joe Biden não foi legítima.
Desse total, 39% estão convencidos de que existem “evidências sólidas” de fraude na eleição.
No total, 61% dos americanos afirmam que Biden venceu legitimamente a eleição.
38% dos americanos não acreditam em sua vitória legítima.
Entre os eleitores de Trump, 75% deles afirmam que “têm dúvidas” sobre a vitória de Biden.
Em resumo: um terço dos americanos ainda acha que a eleição foi roubada, mesmo que não existam nem provas, nem indícios e que todos os controles tenham apontado para uma eleição limpa.
A pesquisa revela, acima de tudo, uma dura realidade:
A mentira disseminada como arma política matará a democracia. Mesmo quando um político com fortes e óbvias tendências autoritárias não vença nas urnas.
Ao longo dos últimos anos, a extrema direita americana usou justamente o sistema eleitoral e a democracia para chegar ao poder. E, uma vez no comando, instaurou a dúvida sobre sua própria legitimidade. Transformou a imprensa em inimiga para poder mentir à vontade e fazer chegar a milhões de desiludidos um tsunami inédito de desinformação.
Entre elas, a de que a eleição havia sido roubada. Hoje, esses dados são apenas o legado de uma operação deliberada.
Instrumentalizando a angústia de uma sociedade atropelada por transformações internas e externas, esse grupo minou o que há de mais sagrado numa democracia: a confiança. Em John Locke, a ideia era de que aqueles que aderiram ao contrato social para ser membros de uma sociedade precisavam ter confiança uns nos outros.
Do que valerá uma eleição na qual apenas 61% dos cidadãos acreditam que ela existiu de fato e de maneira correta?
O contrário da mentira é a realidade com base em fatos. Nós, de uma forma mais genérica, chamamos isso de “verdade”, uma pré-condição para a existência da democracia.
Há um paradoxo na democracia. Sua sobrevivência está baseada na confiança. Mas também na desconfiança – o que permite que haja um controle mútuo entre os poderes e a exigência da transparência para garantir que não haja usurpação de poder, de dinheiro ou do futuro.
Mas se a desconfiança era justamente um instrumento para assegurar a sobrevivência da democracia e impedir tendências autoritárias, hoje a desconfiança é nutrida para justamente minar o sistema.
E pior: essa desconfiança não precisa mais estar baseada em fatos.
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