Uma semana após o corpo da criança ser encontrado, o mecânico Geraldo Magno de Oliveira foi preso em uma operação policial e entrevistado por jornalistas antes do interrogatório.

O segundo suspeito de ter assassinado a criança de 8 anos que ficou conhecida como “menina-mendiga”, e depois como “Menina Sem Nome”, foi preso uma semana após o corpo dela ser encontrado na praia do Pina, na Zona Sul do Recife, em junho de 1970. A prisão do mecânico Geraldo Magno de Oliveira, de 22 anos, aconteceu durante uma operação da Polícia Civil.

Policiais das delegacias de Homicídios e de Costumes fizeram uma “caçada”, como a imprensa chamou na época, em busca do assassino. Quando Geraldo foi preso, o primeiro suspeito já havia sido detido. O vendedor de cocos Arlindo José da Silva ficou uma semana na prisão e negou participação no crime.

Para o historiador e sociólogo Marcos Dornelas, que trabalha no Arquivo Público de Pernambuco, a firmeza de Arlindo José em negar envolvimento nesse crime tinha um significado especial nos anos 70, quando o Brasil estava sob o regime militar.

“Numa época como aquela, para negar um crime para a polícia, você tinha que ter muita convicção, não é? E ele negou desde o começo”, disse Marcos.

Com o surgimento do segundo suspeito, Arlindo José foi libertado. Apontado como assassino da criança, Geraldo Magno era conhecido na comunidade do Bode, no bairro do Pina. Ele “era andarilho, bebia assim em todos os lugares” e terminou preso porque, “bebendo, falou besteira”, disse Rivaldo Gadelha da Hora, que tem 73 anos e continua morando no local.

Peça-chave para prisão

Ainda segundo o “Diário da Noite”, Heleno Oliveira contou sua suspeita para um grupo de amigos, no qual estava um policial infiltrado. Manoel Marques de Souza, da Delegacia de Costumes, investigava a morte da criança e se apresentou aos demais como um taxista.

Interrogado pelo delegado Mário Alencar, Heleno narrou com mais detalhes suas suspeitas contra Geraldo Magno, que acabou sendo preso e apresentado pela polícia à imprensa.

“Camisa aberta no peito, cabelos encarapinhados, a barba por fazer e chorando bastante, o monstro Geraldo Magno de Oliveira confessou, ontem, oficialmente, à polícia, todas as cenas que resultaram na morte da garotinha de oito anos”, publicou o jornal “Diário da Noite”.

Confissão

No dia seguinte à entrevista de Geraldo Magno para a imprensa na Secretaria da Segurança Pública, o jornal “Diário da Noite” publicou que o suspeito:

  • Do local onde trabalhava, “via sempre a passagem da garotinha, que vivia pedindo esmolas nos bares e passeava sempre pela Avenida Beira-Mar”;
  • Ao sair do trabalho, avistou a menina e a convidou para passear, indo para a beira da praia. “O objetivo dele era praticar atos libidinosos com a garotinha. A noite, o luar, a praia, serviram de cenário para que o monstro desse vazão aos seus instintos bestiais”.
  • “Depois de se aproveitar da menina-mendiga, saiu com ela e foram para perto de uma barraca de venda de coco verde. E jura que não estuprou a garotinha. O laudo médico feito no cadáver pelos legistas do Instituto de Medicina Legal (IML) confirma as suas palavras”;
  • Teve um desentendimento com a criança após dizer que iria em um bar para trocar um dinheiro e dar para ela: “Eu estava bastante embriagado e ia trazer o dinheiro para ela. Mas acontece que ela não se conformou que eu fosse até um bar próximo para trocar e começou a me insultar”;
  • Usou uma faca para ameaçar a criança: “Com os insultos dela, fiquei com muita raiva. Saquei uma faca que conduzia e lhe desferi um golpe na garganta. Enquanto ela ainda agonizava, coloquei suas mãos nas costas e a amarrei. Em seguida, apanhei um pedaço de corda de uma jangada e a enforquei”;
  • Demonstrou arrependimento após o crime: “Não sei mesmo onde estava [com a cabeça] quando matei a menina”.
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