Soldado americano que entrou na Coreia do Norte volta aos EUA
Postado em: Por: Raimundo Carvalho
Caso de Travis King representa um raro sucesso diplomático nas relações entre os dois países.
Travis King, soldado do exército dos Estados Unidos, está em um voo de volta ao país depois de ter sido devolvido à custódia americana, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller.
Isso acontece semanas após o militar ter cruzado a fronteira da Coreia do Norte e ter sido capturado.
“Agradecemos a dedicação da equipe, que reuniu diversas agências e que trabalhou incansavelmente, preocupada com o bem-estar do soldado King”, disse o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, em comunicado.
“Além disso, agradecemos ao governo da Suécia pelo seu papel diplomático, servindo como potência protetora dos Estados Unidos na Coreia do Norte e ao governo da República Popular da China pela sua assistência na facilitação do trânsito do soldado King”, adicionou.
A libertação de King representa um raro sucesso diplomático nas relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.
Os esforços para recuperá-lo ocorreram em um momento particularmente tenso, já que as autoridades norte-americanas alertaram publicamente Pyongyang contra o fornecimento de armas à Rússia para a guerra na Ucrânia recentemente.
No início deste mês, Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, viajou para a Rússia para uma reunião com o presidente do país, Vladimir Putin. Os EUA também condenaram a Coreia do Norte, que realiza uma série de testes de mísseis balísticos.
A mídia estatal norte-coreana KCNA informou que o país havia decidido “expulsar” King, que entrou em seu território durante uma visita à Área de Segurança Conjunta (JSA) entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul em julho deste ano.
A reportagem da KCNA pontuou que uma investigação norte-coreana sobre o militar norte-americano “foi concluída”.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou que King está voltando para os EUA e deve chegar “nas próximas horas”.
O soldado foi entregue pelos norte-coreanos ao embaixador dos Estados Unidos na China, Nicholas Burns, em Dandong, na China, de acordo com o porta-voz.
Duas autoridades norte-americanas disseram à CNN que Travis King foi levado por um comboio sueco à Ponte da Amizade, na fronteira entre a Coreia do Norte e a China.
No lado chinês da ponte, o adido de defesa dos Estados Unidos na China, brigadeiro-general Patrick Teague e Burns, encontrou-se com King e levou-o sob custódia militar dos EUA.
Miller disse que o soldado voou para Shenyang, na China, e depois para a Base Aérea de Osan, na Coreia do Sul, antes de partir para os EUA.
Espera-se que ele seja levado ao Centro Médico Brooke do Exército, em San Antonio, após seu retorno aos EUA, disseram duas autoridades americanas.
Localizado na Base Conjunta San Antonio-Fort Sam Houston, o centro médico é o maior hospital do Departamento de Defesa, de acordo com o site do hospital.
O Centro Médico Brooke também possui um programa do Departamento de Defesa conhecido como PISA (Atividades de Apoio Pós-Isolamento) para ajudar os americanos a se aclimatarem de volta à vida normal após serem detidos.
Tanto Trevor Reed quanto Brittney Griner foram para lá depois de serem libertados da detenção na Rússia.
Diplomacia intensa
Autoridades dos Estados Unidos disseram que Travis King foi libertado após “intensa diplomacia” entre vários países, resultando na transferência desta quarta-feira (27) através da fronteira para a China e, posteriormente, para a custódia dos EUA.
“O governo dos EUA facilitou com sucesso a saída do soldado Travis King da Coreia do Norte. Sua transferência culmina um esforço de um meses envolvendo várias agências governamentais dos EUA, empreendido pela preocupação com o bem-estar do soldado King e pelo desejo de reuni-lo com a sua família”, destacou um alto funcionário da administração federal.
Em comunicado, o porta-voz do Pentágono, brigadeiro-general Pat Ryder, agradeceu ao exército dos EUA, às Forças dos EUA na Coreia e ao Departamento de Defesa pelos esforços para trazer o militar para casa – bem como aos governos da China e da Suécia “pela sua assistência”.
Os Estados Unidos receberam a notícia no início deste mês da Suécia, que atua como potência protetora dos EUA na Coreia do Norte, de que Pyongyang queria libertar King.
O porta-voz da embaixada sueca, David Lunderquist, confirmou que o país esteve envolvido na ação.
Outro funcionário do governo norte-americano acrescentou nesta quarta-feira que o papel da China se limitava a ajudar a facilitar a transferência de King para fora da Coreia do Norte, mas, fora isso, Pequim não desempenhou um “papel mediador”.
Questionados se os EUA fizeram alguma concessão à Coreia do Norte para a transferência, as autoridades disseram enfaticamente que não.
“A resposta é simples: não houve nenhuma [concessão]. Ponto final”, disse o alto funcionário.
O presidente Joe Biden e outros líderes do governo foram “informados e acompanham de perto os acontecimentos à medida que eles se desenrolam”, adicionou a fonte.
Ações disciplinares contra King
Oficiais militares dos Estados Unidos destacaram que Travis King “deliberadamente e sem autorização” cruzou para a Coreia do Norte em julho.
Ele foi libertado de um centro de detenção na Coreia do Sul pouco mais de uma semana antes de cruzar a fronteira. A prisão parece ser resultado de um incidente de outubro de 2022, no qual ele supostamente empurrou e deu um soco no rosto de uma pessoa em um clube em Seul, de acordo com documentos judiciais.
Um dia antes de cruzar para a Coreia do Norte, King deveria embarcar em um voo para o Texas, onde enfrentaria procedimentos disciplinares.
Mas, depois que escoltas do exército o libertaram em um posto de segurança no Aeroporto Internacional de Incheon, perto de Seul, King deixou o local sozinho.
No dia seguinte, ele participou de um tour pela Área de Segurança Conjunta (JSA) entre as duas Coreias, algo que havia reservado anteriormente com uma empresa privada.
Não existe nenhuma barreira física dentro da JSA, e um integrante do governo dos EUA pontuou anteriormente que depois de ultrapassar a linha de demarcação que delineia a fronteira, King tentou entrar em uma instalação norte-coreana – mas a porta estava trancada.
Ele então correu para os fundos do prédio, onde foi colocado às pressas em uma van e levado por guardas norte-coreanos.
A Coreia do Norte afirmou nesta quarta-feira que King “confessou que entrou ilegalmente no território norte-coreano porque nutria ressentimentos contra os maus-tratos desumanos e a discriminação racial dentro do exército dos EUA e estava desiludido com a sociedade desigual dos Estados Unidos”.
A CNN não pode verificar se afirmação foi feita pelo próprio King, mas, Jeremy Diamond, da CNN, perguntou a um integrante do governo norte-americano se o militar queria regressar aos EUA.
A fonte disse que se tornou “bastante claro” para os diplomatas norte-americanos que “o soldado King estava muito feliz por estar a caminho de casa”.
Não está claro se ele poderá enfrentar mais ações disciplinares por parte dos militares após seu retorno.
Questionado se Travis King poderia enfrentar corte marcial, uma fonte enfatizou que o foco nas próximas semanas seria a saúde do soldado.
“Abordaremos quaisquer ações administrativas que possam ocorrer após o processo de reintegração”, destacou a fonte.
O integrante do governo acrescentou ainda que o foco dentro do exército é ter uma “equipe muito talentosa e experiente” para avaliar King e abordar “quaisquer preocupações médicas e emocionais”.
Questionado sobre o status de ter deixado as obrigações militares sem permissão (AWOL, na sigla em inglês), o funcionário do governo destacou que iriam resolver “todas as questões administrativas após a conclusão da sua reintegração”.
King está “ansioso para se reunir com sua família”
Enquanto o soldado voltava para os EUA, uma fonte ressaltou que ele está atualmente com “boa saúde e bom humor”.
A saúde do militar tem sido motivo de especial preocupação para as autoridades, que anteriormente afirmaram estarem tentando obter mais informações da Coreia do Norte.
Um incidente de grande repercussão de outro americano detido no país terminou tragicamente, quando a saúde do estudante universitário americano Otto Warmbier se deteriorou gravemente enquanto estava sob custódia norte-coreana.
Warmbier foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados, mas foi devolvido aos EUA em 2017 e morreu de graves danos cerebrais menos de uma semana após seu retorno ao país.
Porta-voz da mãe de Traivs King, Claudine Gates afirmou que ela será “eternamente grata” pelos esforços para libertar seu filho.
“Gates será eternamente grata ao exército dos Estados Unidos e a todos os seus parceiros de diversas agências pelo trabalho bem executado”, disse o comunicado.
“No futuro próximo, a família pede privacidade e a Sra. Gates não pretende dar nenhuma entrevista”, complementou.
As também observaram nesta quarta-feira que uma ligação foi feita entre King e sua família.
“Ele está muito ansioso para se reunir com sua família”, disse uma autoridade. “Esse é o sentimento que permeia tudo o mais agora”, finalizou.
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